
O termo “obrigação” sempre me gerou desconforto. A palavra obrigação refere-se ao fato de estar obrigado a fazer algo.
Mas, ninguém é “obrigado” a fazer o que não queria, por isso temos o que se chama de livre arbítrio. A obrigação é a palavra utilizada na maioria das casas de candomblé para referir-se a processos ritualísticos que estabelecem ou mantém a ligação do devoto/iniciado com o Orixá.
Há alguns anos atrás, assistindo um programa de entrevistas da rede Globo, então conduzido pelo apresentador Jô Soares, tive a felicidade de assistir a um sacerdote baiano (de Salvador) de nome Tatá Mutá Imê (Jorge Barreto dos Santos) que durante a entrevista, respondendo a um questionamento do entrevistador sobre as “obrigações” do candomblé, disse:
– Nós (referindo-se a comunidade que ele fazia parte) não chamamos de “obrigação”. Em nossa visão, não somos obrigados a nada! Chamamos de abrigação e explica: Abrigar em sí, a responsabilidade por estar vivo!
Apesar de não ter encontrado a palavra “abrigação” no dicionário da língua portuguesa, imediatamente reconheci o sentido que a palavra remete.
Esta explicação, trouxe-me ao entendimento definitivo sobre o que representa as “obrigações”.
Perceba a diferença entre “obrigar” e “abrigar”. Realmente foi um ensinamento único que jamais poderá ser esquecido, pelo simples fato de ter sido esclarecedor e de fazer sentido.
Ainda durante a entrevista, o sacerdote disse frases pouco utilizadas nas casas de candomblé, mas que tem absolutamente tudo a ver com o culto de Orixá – Ele disse: “Energias em movimento” e “Transferência de Energia”.
Nenhuma palavra poderia explicar melhor a “obrigação” como uma transferência de energia, pois é o que de fato é.
Pela força do habito, o termo “obrigação” continuará a ser amplamente utilizado no candomblé.
Mas, a partir deste momento você tem apresentada uma nova visão sobre o assunto. Sabe agora que, a “obrigação” nada mais é do que o ato de “abrigar” energias em você.
Também é importante esclarecer que, os prazos para que as “obrigações” sejam feitas, foram estabelecidas pelo próprio candomblé, não tendo nenhum fundamento em relação ao culto praticado em países Africanos.
Em via de regra, funciona assim: Primeiro, a iniciação, depois as “obrigações” de um ano de iniciado, três anos, sete anos, quatorze anos e vinte e um anos. Algumas casas ainda acrescentam a obrigação de cinco anos.
Este esclarecimento tão importante, livra os adeptos do candomblé de terem receios/medos de atrasarem suas “obrigações” ou simplesmente não darem mais continuidade. Esclarece ainda que: “SIM, EXISTE UMA PORTA DE SAÍDA NO CANDOMBLÉ” e, a porta de saída é o conhecimento.
Bàbá Adjauwé