A pena Ekodidé, os Iroubás chamam Odíde ou Odíderé, é um símbolo sagrado e emblemático tanto na cultura yorubá, em sua terra de origem na África Ocidental, quanto nas religiões afro-brasileiras, especialmente o Candomblé. Ela representa uma conexão profunda entre ancestralidade, espiritualidade e poder, sendo reverenciada por sua beleza e significado ritualístico. Apesar de compartilharem algumas práticas, as visões yorubá e a tradição do Candomblé no Brasil apresentam nuances que enriquecem a compreensão dessa pena ritual.
Fundamentos na cultura Yorubá
Na cultura yorubá, a Ekodidé provém da cauda do Odidé, o papagaio africano de cauda vermelha (Psittacus erithacus). O papagaio é um animal reverenciado, considerado mensageiro dos orixás e portador de sabedoria. A pena vermelha simboliza a energia vital (axé), a comunicação entre o mundo espiritual e o terreno, e o domínio da palavra, atributo muito valorizado entre os iniciados.
A Ekodidé na tradição yorubá é usada principalmente pelos eleguns — os iniciados responsáveis por mediar as energias espirituais e defender os cultos contra forças negativas. Colocada na testa ou capacete, a pena representa a autoridade espiritual e o compromisso do iniciado com o culto. Além disso, a pena está associada à dignidade, ao poder da ancestralidade e à beleza interior, conforme narrativas tradicionais que enaltecem seu valor simbólico.
A pena Ekodidé no Candomblé brasileiro
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No Candomblé, a Ekodidé mantém seu papel central nos rituais, mesmo com adaptações culturais e simbólicas decorrentes da diáspora africana. Ela é fundamental nos ritos de passagem e iniciação de ìyàwó, simbolizando realeza, honra e status espiritual adquiridos. A pena está ligada à força e ao reconhecimento dos iniciados, sendo usada na confecção de brasões, coroas e outros adornos sagrados que representam essa condição. Além disso, a Ekodidé é empregada em oferendas, limpezas e na proteção dos terreiros, representando a pureza espiritual e a profunda ligação entre o sacerdote ou sacerdotisa e seus orixás. |
A preservação cuidadosa da pena, muitas vezes acompanhada de cânticos e rezas específicas, é parte do respeito à importância da Ekodidé no culto. A pena não é apenas uma peça decorativa; ela confere ao seu portador uma proteção espiritual real e ativa, além de ser uma fonte de axé, energia vital para a atuação nos rituais.
Aqui está uma oração tradicional em iorubá para abençoar a pena Ekodidé, muito usada em rituais de iniciação no Candomblé, junto com sua tradução adaptada:
“Ekodidé, Asé wa, Olóòrun, bukun fun wa, kó wa ní ọlá, kó jẹ́ kó pẹ́, kó jẹ́ kó ní agbára.”
“Ekodidé, nosso axé, Deus criador, nos abençoe, conceda-nos honra, longevidade e poder.”

Usos ritualísticos e curiosidades
A pena Ekodidé deve ser obtida com respeito e ritualística específica para que mantenha seu axé, pois sua força espiritual depende da pureza do gesto.
A lenda yorubá que acompanha a origem da pena conta que o papagaio Odidé ganhou sua cauda vermelha como prêmio pela beleza interior, reforçando a ideia de que o valor espiritual está no caráter e na sabedoria, não apenas na aparência externa.
Na iniciação dos eleguns, a colocação da Ekodidé na cabeça sinaliza o despertar da proteção e da comunicação com as entidades espirituais, um ritual de passagem de grande importância.
Para os praticantes do Candomblé, há um cuidado para que a pena não seja exposta sem necessidade ou obstruída, pois ela atua como canal para manifestação dos orixás.
Da Redação