O Equilíbrio entre Ìrẹ e Ìbì

Na visão dos Yorùbás, a experiência humana é compreendida como um movimento perpétuo entre polaridades dinâmicas que, embora opostas, se completam. Entre os conceitos fundamentais que descrevem essa dinâmica estão Ìrẹ e Ìbì.

O termo Ìrẹ se refere a um estado de graça, caracterizado por bênçãos e sincronicidade positiva. Ele surge quando o Orí (a essência espiritual individual) está em consonância com as dimensões espiritual e material, gerando assim paz, bem-estar e abundância.

Em oposição, Ìbì denota azar, adversidade ou obstáculos. No corpus de Ifá, essa condição negativa é frequentemente denominada Òsógbó, que detalha as manifestações concretas do infortúnio.

A especificidade desses estados é notável. As bênçãos são categorizadas de forma precisa, como em Ìrẹ owó (bênção da prosperidade), Ìrẹ ìlera (bênção da saúde) e Ìrẹ ọmọ (bênção da prole). Da mesma forma, os infortúnios são minuciosamente classificados sob o conceito de Òsógbó, por exemplo:

  • Òsógbó ìkú → infortúnio ligado à morte
  • Òsógbó àrùn → infortúnio ligado à enfermidade
  • Òsógbó òfò → infortúnio ligado ao prejuízo material
  • Òsógbó èjo → infortúnio ligado a disputas e contendas
  • Òsógbó ìpọnjú → infortúnio ligado a sofrimentos e tribulações

Segundo os ensinamentos de Ifá, tais vicissitudes são inerentes à condição humana; nenhuma pessoa está imune a elas. A sabedoria prática, portanto, reside em discernir corretamente se se está em um ciclo de Ìrẹ ou de Òsógbó, para então conduzir a vida de maneira apropriada.

Essa hierarquia espiritual é sintetizada em um provérbio eloquente: “Orí la bá bò, a bá f’Ọ̀rìṣà ṣèrè“, que transmite a ideia de que a primeira homenagem deve ser prestada ao próprio Orí, antes mesmo de se voltar para os Òrìṣà, pois é o Orí o portador primordial do nosso destino.

Resumo

Na espiritualidade Yorùbá, o destino humano é tecido pela interação de duas condições fundamentais: Ìrẹ e Ìbì (também expresso como Òsógbó). O Ìrẹ se manifesta como alegria, saúde, prosperidade e longevidade, enquanto o Òsógbó se revela por meio de morte, perda, dificuldades e conflitos.

Contudo, nenhum desses estados é permanente ou definitivo. Os ensinamentos de Ifá revelam que, por meio do Orí (a essência interior), do Ìwà (caráter reto), de rituais específicos e da reverência aos ancestrais, é possível transformar o infortúnio em ventura, assim como perpetuar as bênçãos através das gerações.

Dessa forma, o objetivo da existência não é evitar toda e qualquer adversidade, mas sim viver com sabedoria – cultivando a conexão com o Orí, seguindo a orientação de Ifá e agindo com retidão. Nesta perspectiva, o fluxo contínuo entre Ìrẹ e Òsógbó deixa de ser apenas uma circunstância da vida para se tornar um mestre, orientando cada indivíduo em sua jornada em direção ao equilíbrio e ao cumprimento do próprio destino.

Àse o!
Babalorixá Robson de Odé

Saiba mais sobre ele

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *