Osun Osogbo: A Floresta Sagrada da Nigéria

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Por:

Babalorixá Robson de Odé

Nos arredores da cidade de Osogbo, no sul da Nigéria, encontra-se um dos tesouros naturais e espirituais mais significativos do povo Yorùbá: o Bosque Sagrado de Osun Osogbo. Mais do que uma simples área verde, este bosque é tido como a residência da divindade Osun, a deusa da fertilidade, e se destaca como um dos últimos remanescentes de floresta primária em toda a região. A paisagem é pontuada por meandros do rio Osun, adornados com esculturas, santuários e obras de arte erguidas em honra a Osun e a outras divindades do panteão Yorùbá. Atualmente, o local é um símbolo poderoso da identidade cultural desse povo, representando um costume ancestral de preservar bosques consagrados além dos limites das comunidades (UNESCO, 2005).


Com aproximadamente 75 hectares, o Bosque de Osun Osogbo foi reconhecido como Patrimônio Mundial da UNESCO devido à sua rica evolução cultural e resistência ao tempo. Sua vegetação característica da floresta tropical da África Ocidental abriga uma biodiversidade impressionante: são mais de 400 espécies de plantas — das quais cerca de 200 possuem propriedades medicinais —, além de mais de 40 tipos de árvores e animais silvestres, como os macacos mona e os de garganta branca (Osaghale, Omisore e Gbadegesin, 2014). O rio que serpenteia pelo bosque é considerado a manifestação terrena da deusa Osun. Ao longo de suas margens, distribuem-se 40 santuários, esculturas e palácios dedicados a divindades, muitos construídos nos últimos quarenta anos, além de nove locais de culto e cinco espaços sagrados mantidos por sacerdotes e sacerdotisas (UNESCO, 2005). Tombado como Monumento Nacional em 1965, o bosque teve sua área de proteção ampliada em 1992 e conquistou o status de Patrimônio Mundial em 2005 (Okonkwo e Eyisi, 2018).

A gestão tradicional do bosque é realizada pelo Ataoja — o rei de Osogbo — e seu Conselho do Patrimônio Cultural. Para proteger o santuário, a comunidade recorre a leis consuetudinárias, mitos, tabus e rituais que proíbem atividades como pesca, caça, extração de madeira e agricultura. A preservação do local é garantida pela combinação de normas governamentais, crenças espirituais, a atuação de guardas florestais e, especialmente, o engajamento de líderes religiosos e moradores locais, que utilizam os rituais não apenas como prática de fé, mas também como meio de conservar a biodiversidade e a integridade cultural do bosque.

A relação do povo Yorùbá com a natureza selvagem difere significativamente da visão ocidental. Enquanto no Ocidente a "wilderness" é frequentemente associada a áreas intocadas para recreação ou preservação ecológica, para os Yorùbá a floresta é um espaço vivo e ancestral. Certas áreas do bosque abrigam santuários que simbolizam a conexão entre a comunidade, seus ancestrais e o mundo natural. Historicamente, esses ambientes também funcionavam como espaços de iniciação, onde os jovens — especialmente os homens — partiam em longas expedições de caça ao lado de mais velhos. Essas vivências, que podiam durar dias ou semanas, eram fundamentais para transmitir valores como resistência, autossuficiência e força, servindo como uma verdadeira escola ao ar livre onde o conhecimento ancestral era passado adiante.

Àse o!
Babalorixá Robson de Odé
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